Este é o meu segundo ano como pesquisadora visitante na Universidade de Birmingham, UK. Quando estou por aqui, sempre aproveito para me conectar com outros pesquisadores, novas linhas de pesquisas, e busco novos recursos (publicações, cursos, etc) para me atualizar ainda mais no tema de urbanismo sustentável. No ano passado, tive acesso ao livro Restorative Cities (Layla McCay e Jenny Roe, https://www.urbandesignmentalhealth.com/book.html), que aborda como as cidades podem ser desenhadas de modo a melhorar o bem estar e a saúde mental dos habitantes. Este ano, me deparei com o livro “Healthy Urbanism”, de Helen Pineo, da University College of London (UCL) – https://healthyurbanism.net/about/. O conceito principal do livro é que um urbanismo saudável requer sustentabilidade, inclusão e equidade. Diversos estudos estão sendo continuamente desenvolvidos sobre métodos de planejamento e desenvolvimento de cidades melhores para as pessoas.
Conceitos como este (assim como Restorative Cities), são desenvolvidos com base em muita pesquisa, e claro, desenvolvimento de diversos estudos de caso e observação dos resultados e impactos na vida dos cidadãos. No caso do conceito de urbanismo saudável, o livro aborda como a vida urbana afeta a nossa saúde. Em um primeiro momento pensamos em poluição, falta de espaços verdes, no trânsito que piora a cada dia. Mas, os problemas são muito mais complexos (e interconectados) do que imaginamos. Essa é só a ponta do iceberg. O modo como as construções são feitas, a configuração espacial da cidade, distribuição dos equipamentos públicos, o zoneamento, o plano de mobilidade, o plano de segurança, e sim, a poluição, as desigualdades, a pobreza, entre outros fatores, impactam a nossa saúde (física e mental), diária e cumulativamente.
De acordo com o livro, os recursos que promovem a saúde vão muito além de serviços básicos de saúde (como o atendimento nas UBS, medicamentos, programas básicos, etc). O que também promove a saúde do cidadão é ter acesso à educação, ao trabalho, a uma alimentação saudável, uma habitação de qualidade, etc. Diversas pesquisas já concluiram que pessoas que moram em locais mais precários, tendem a morrer mais cedo e/ou a permanecer mais tempo doentes. Os impactos mais graves de crises urbanas, como a climática, o processo de urbanização acelerada, ou como foi a pandemia de Covid-19 ocorrem nas periferias (já falei do conceito de racismo ambiental aqui: https://www.comunidadesvivas.com.br/o-mapeamento-participativo-como-ferramenta-para-o-enfrentamento-ao-racismo-ambiental-mapeamento-participativo-na-brasilandia/
E claro, todo esse cenário poderia ser modificado através das políticas urbanas e design urbano, orientadas para o desenvolvimento sustentável, para a inclusão e para o enfrentamento das desigualdades. No caso da inclusão, o livro também reforça que uma boa parcela da população não é considerada no planejamento urbano. Isto é algo que está muito presente no meu trabalho com mapeamento participativo em periferias. Mulheres, crianças, adolescentes, idosos, deficientes, minorias étnicas, pessoas em situação de pobreza, ou pessoas LGBTQIA+ não tem um lugar de fala no desenvolvimento do bairro e da cidade, e com muita frequência tem seus direitos violados. O livro de Helen Pineo fala também da importância do foco na redução de barreiras, sejam elas políticas, econômicas, ou até mesmo geográficas, para incluir verdadeiramente as pessoas no processo de tomada de decisão. Todos tem o direito de usufruir da cidade nas mesmas condições, segundo Helen. Assim, através do mapeamento participativo, eu busco tornar visível o que é importante para as pessoas em seus bairros (de acordo com elas mesmas) para que estas informações passem a estar disponíveis para os planejamentos e as políticas. E para isso, eu busco aplicar estes conceitos, como o de urbanismo saudável e também o de cidades restauradoras. É necessário um esforço conjunto e coletivo da sociedade para a superação destas barreiras.
Em breve postarei mais reflexões e produções do meu período de pesquisa por aqui.
** Livro Healthy Urbanism, de Helen Pineo: https://healthyurbanism.net/about/