Acima estão ilustradas as principais dificuldades e desafios encontrados por adolescentes e jovens em nossas cidades. Estes dados foram coletados em uma palestra de mapeamento e participação social com jovens para a rede Engajamundo em maio de 2021.
Quando eu era jovem, nem sabia ser possível que pessoas comuns como meus pais, ou mesmo eu, poderiam sugerir ideias para nossa cidade, para melhorar ou transformar. Jovens nos anos 90 e 2000 apenas viviam a cidade como ela era, com seus problemas, sua falta de espaços, e assim era. Sem outras possibilidades. Hoje, é plenamente possível que os jovens não só expressem sua opinião sobre seu bairro ou cidade, mas também tenham acesso à instrumentos de planejamento e outras ferramentas, podendo falar sobre o que os incomodam, o que falta, o que poderia melhorar, seus principais problemas e dificuldades. O mapeamento participativo torna isso possível, com suas ferramentas e inúmeras possibilidades.
Neste segundo quadro, podemos ver o que jovens acham que precisa para que este cenário de falta de oportunidades de engajamento e participação melhore.
Eu trabalhei com adolescentes em 2017, e posso afirmar que jovens tem muito a dizer, e muito a contribuir com o desenvolvimento de nossas cidades. Eles sofrem na pele o que é um planejamento urbano voltado para adultos, muitas vezes desenvolvido por homens e com foco principal no desenvolvimento econômico (leia mais aqui: https://blogs.iadb.org/brasil/pt-br/mulheres-que-transformam-a-cidade-7-politicas-publicas-urbanas-e-genero/). Além disso, jovens são especialmente vulneráveis aos impactos socioambientais do desenvolvimento urbano não planejado, como ocorre no Brasil, tanto como as crianças são. De acordo com a UN Habitat, eles se encontram em um estágio crucial de suas vidas, e são impactados diretamente pela falta de recursos, de cultura, educação, ofertas de trabalho, espaços de lazer, especialmente os que moram em regiões urbanas periféricas. O que eles precisam é de uma porta de entrada (políticas adequadas e específicas, ferramentas, espaços e lugar de fala, apoio e incentivo) para que possam ser integrados no planejamento dos locais onde moram.
Jovens são capazes de contextualizar e compreender o ambiente onde vivem, sabem bem quais são as dificuldades, e mais, podem propor soluções e alternativas para melhorias imediatas. Em meu trabalho com jovens no ano de 2017, realizado no bairro do Novo Recreio, em Guarulhos, os adolescentes participantes não só apontaram problemas do bairro nunca observados em mapas antes, mas também desenvolveram estratégias e soluções para que, por exemplo, o acesso à recursos básicos como água, alimentos frescos e energia, fossem melhorados, e até mesmo, resolvidos.
Eles tem um potencial incrível e muita vontade de melhorar nossas cidades. Nós, profissionais de planejamento urbano, temos a obrigação de criar os meios para que eles sejam cada vez mais ouvidos e participem da construção e reformulação das nossas cidades, especialmente na fase pós-pandemia que está chegando, onde diversos elementos das cidades devem ser modificados e melhorados. Porque não iniciarmos essas mudanças com os jovens participando do processo?
Nesta semana iniciarei um curso básico de instrumentos de mapeamento participativo para os jovens voluntários da rede Engajamundo, com o maior objetivo de, além de ensiná-los a utilizar os principais instrumentos, torná-los capazes de replicar o uso destas ferramentas nos projetos deles, tornando-os multiplicadores deste método. Acompanhe neste blog os desdobramentos do curso, e se você tiver interesse em levar este curso para sua instituição, escreva para carolina@comunidadesvivas.com.br, e marcamos uma conversa.