(Fotografia: Dharavi, Mumbai, por Carolina Carvalho)
O mapeamento participativo (MP) tem sido utilizado amplamente nos últimos anos, para planejar comunidades, bairros, cidades, para a gestão de terras e conflitos, entre outras diversas aplicações. O método conta com diversas ferramentas para este fim, desde papel e lápis até plataformas online inovadoras, como Maptionnaire, por exemplo. Seu uso é amplo em cidades de países desenvolvidos, e vem aumentando nos países em desenvolvimento. E felizmente, o MP também tem sido utilizado para mapear comunidades vulneráveis, como áreas periféricas e favelas. O modo de aplicação do MP nestes locais precisa ser realizado de forma a incluir o maior número possível de participantes, pois com frequência, não há acesso à internet, ou computador, ou mesmo um espaço público no qual possam ocorrer encontros dos moradores para que estes interajam com gestores e possam participar de processos de planejamento e decisão. Simplesmente não há processos (ou são insuficientes) para facilitar a inclusão e a participação destas pessoas no planejamento urbano, salvo em projetos específicos.
Assim, o MP traz uma gama de ferramentas que podem ser aplicadas nas comunidades mais vulneráveis, engajando desde crianças a idosos, devido à sua versatilidade e facilidade de aplicação, e sem a necessidade de recursos como computador e internet. O mapa falante, por exemplo, é uma ferramenta para iniciar a mobilização social, com um grande potencial. Consiste na confecção de um desenho livre que represente o bairro, ou parte dele, e seus principais desafios, problemas, pontos negativos ou positivos. Neste processo inicial, os participantes discutem sobre o local onde moram, debatem os problemas principais, falam de soluções. O mapa falante é o ponto de partida para o desenvolvimento de mapas mais precisos, usando um mapa base ou uma plataforma online como MyMaps ou OpenStreetMap, por exemplo. Com o desenvolvimento destes mapas mais precisos, é possível delinear com precisão pontos problemáticos no bairro, e que precisem de uma intervenção imediata. Estes mapas podem ser posteriormente digitalizados, e produtos para sua ampla disseminação podem ser desenvolvidos em conjunto com a comunidade, como sites, cartilhas, relatórios e outros. As plataformas online também podem ser usadas, se for possível, mas de forma complementar. O processo de construção colaborativa dos mapas de bairro estimula o diálogo, a escuta e amplifica o conhecimento do ambiente local. De posse desse conhecimento, os moradores se sentem mais fortalecidos e embasados em produtos concretos para solicitar demandas aos seus gestores e prefeitos.
Assim, o MP pode dar voz aos que não tem voz, os que não tem acesso aos espaços públicos, e assim, produzir juntos o conhecimento local, tornando-o visível à sociedade, e então, lutar contra as constantes injustiças ambientais, sociais e econômicas sofridas. Com a construção desse conhecimento colaborativo, a comunidade passa a se conhecer melhor, a delimitar onde realmente estão os problemas, sendo possível desenvolver propostas de melhoria de qualidade de vida, de indicadores locais, e começar a romper os ciclos de pobreza. Este método pode ajudar as comunidades em sua busca por justiça social. A justiça social nada mais é do que o tratamento justo e igualitário de todas as pessoas, independente de gênero, raça, idade, e objetiva a distribuição justa de recursos e o respeito pelos direitos das minorias, garantindo seu pleno e próspero desenvolvimento. É um direito básico que costuma ser invisibilizado em determinados locais das cidades e com determinados grupos sociais. O planejamento urbano justo tem um papel essencial na redução das desigualdades, e o mapeamento participativo torna visível as demandas de grupos tradicionalmente marginalizados no processo de tomada de decisões do planejamento, tornando-o mais justo.